[vc_row][vc_column][vc_column_text]Surgido em meados de 2017, o termo “cancelamento” tem gerado a maior discussão nos últimos dias nas redes sociais por conta do programa Big Brother Brasil (BBB 21) da emissora de TV Globo. Na casa onde pessoas são selecionadas para ficar confinadas por vários dias, muitas questões de relacionamento e convivência são levantadas entre elas. O próximo paredão do BBB com Karol Conká é o assunto mais falado da semana pelo comportamento que vem tendo a jovem rapper os. O que se tem discutido é que o cancelamento coloca em xeque a lógica punitivista, o direito à liberdade de expressão, peça fundamental da democracia moderna contemplada na Declaração Universal de Direitos Humanos promulgada em 1948.
Mas e o que é a cultura do cancelamento? O termo surgiu para nomear uma prática virtual de boicote a personalidades famosas ou não que cometeram alguma violência, tendo dito ou feito algo considerado moralmente errado pelos padrões de determinado grupo dentro ou fora da internet. O termo foi popularizado e difundido em diversas campanhas de denúncias nas redes sociais. Alguns defendem o cancelamento como forma de romper com a blindagem de pessoas privilegiadas na sociedade. Por outro lado, também tem gerado discordância de parte da população que diz que a longo prazo o cancelamento não resolve problemas estruturais de desigualdade da sociedade. Além de ser uma ação frágil, pois pode ser reduzida a apenas uma lógica punitivista para linchar quem muitas vezes fez um comentário por ignorância.
Vários especialistas dos Direitos Humanos dizem que podemos estar sofrendo de um retrocesso das liberdades, inclusive nas democracias ocasionada pela crise sanitária e econômica. Ou seja, vem tudo junto: pandemia, propagação de fake news, desinformação, cancelamento, um estouro de fragilidades nas instituições e no comportamento do ser humano. Estamos em um país onde o nível de entendimento sobre os direitos humanos é frágil e decadente, perpetua um sentimento de que a justiça possa ser alcançada com as próprias mãos.
O cancelamento ocorre diariamente e afeta a vida e a reputação de várias pessoas. Consideremos que errar é algo humano e comum, e que o diálogo é mais efetivo e educativo do que a submissão ao julgamento e humilhação virtual inerente à cultura do cancelamento. É importante o cuidado da imagem e posicionamento dentro dessa rede gigantesca e interligada as mídias as plataformas digitais. Exposição excessiva e publicações que envolvem assuntos polêmicos também têm suas consequências. Realizemos nossas ações com consciência e levando em consideração a empatia com o outro, que não quer dizer concordar, mas ser sensível e se colocar no lugar para entendê-lo antes de cancelá-lo.
O filósofo holandês Baruch Spinoza, confirma que os encontros podem aumentar ou diminuir nossa alegria.
“A vida é sempre feita de elementos alegres e tristes, e faz parte da vida a gente aprender tanto a sorrir como a chorar. Essa ideia de cancelamento tem muito a ver com não reconhecer que o outro pode ter uma divergência comigo, que eu não preciso só gostar do meu espelho. […] A pessoa concorda plenamente comigo, é um ídolo, tem todas as ideias políticas e religiosas parecidas com as minhas, alguém que eu vou aplaudir, [mas] ao menor sinal de divergência ou posição diversa, eu acabo dizendo que essa pessoa não presta. Isso tem a ver com uma dificuldade de compreender que todo encontro humano, toda relação humana, tem conflitos.
E esses conflitos e divergências não são necessariamente algo para se transformar em confronto”, ressalta.
Mas afinal, quem somos nós para cancelarmos alguém? Você já pensou que existe alternativas de compreender, dialogar, se afastar, ouvir as críticas e discordar? É preciso acabar com esse narcisismo de só dar valor e amar o que se parece comigo. Somos capazes de entender que não é preciso amar a tudo e a todos, temos que primeiramente respeitar as coisas, na convivência temos que lidar diariamente com o sim e com o não. A nossa sociedade contemporânea não entende a nova realidade por termos construído uma sociedade onde viver é apenas receber o sim e ter prazeres.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]
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